A voz em vez do sax de Bird
Rui Branco, JN
O convite partiu da baterista Sherrie Maricle e a tarefa era a gravação de um programa televisivo nos Estados Unidos com uma banda de jazz feminina. Maria Anadon aceitou e a ela juntaram-se Anat Cohen (clarinete e safoxone tenor), Tomoko Ohno (piano) e Noriko Ueda (baixo). E é com esta formação que a vocalista edita agora o seu terceiro álbum, "A jazzy way".
A experiência não é nova. Maria Anadon já tinha gravado o seu primeiro CD só com mulheres. A ideia partiu da edição do Guimarães Jazz de 1994, em que o tema foi "A mulher no jazz". Passado dois meses, a cantora portuguesa estava a gravar o seu CD de jazz no feminino.
Maria fala como se entrasse em "scat". As palavras saem em catadupa e o seu olhar brilhante revela que está a reportar-se à coisa mais importante da sua vida. "Fundamentalmente tivemos de arranjar um suporte financeiro para este projecto. Depois fomos para os Estados Unidos , escolhemos os temas, gravamos. Os arranjos foram todos feitos lá. Gravamos o disco num só dia."
A banda é formada por uma portuguesa, uma americana, uma israelita e duas japonesas. "De facto, aquilo que nos une aqui é uma linguagem comum, que é o jazz standard. Os arranjos foram feitos com as ideias e as influências de cada uma ", diz Maria.
O novo disco apresenta 13 temas do "american song book" - "o reportório foi escolhido por mim" - e ainda "One note samba", de António Carlos Jobim. A razão? "Elas insistiram para que cantasse qualquer coisa em português. Acho que este tema de Jobim toda a gente conhece", defende a cantora.
Quem quiser ver o quinteto feminino de Maria Anadon em acção ainda dispõe de uma oportunidade no Bar Dominó, do Casino Espinho, hoje, a partir das 23 horas.
Depois, a banda só voltará reunir-se em Lisboa, em Janeiro do próximo ano.
Só para ouvir "Confirmation", de Charlie Parker, onde Maria Anadon substitui o saxofone de Bird com a sua voz já valia a pena ouvir "A jazzy way". Segundo a cantora, a interpretação tem muito a ver com a de Sheila Jordan. Mas não deixa de ser prodigiosa a forma como coloca a sua voz. Depois há mais 12 "standards" para saborear. Aprecie-se a sua potência vocal e o seu "scat" logo no tema de abertura , "Old devil Moon" e depois é difícil parar. "Comes love", "Black Coffee" e "I'm old fashioned" são obrigatórios. E depois há uma banda irrepreensível, com Tomoko Ohno (piano) e Sherrie Maricle (bateria) em destaque.